quarta-feira, 17 de junho de 2015

Eu entendo!

Se tem uma mania -e bem problemática– é o meu hábito de desligar o celular quando ele toca, abrir o olho uma hora depois, sair correndo porque já estou em cima da hora, procurar uma roupa que não precisa passar e torcer para que todos os sinais estejam verdes. 
Hoje eu não acordei atrasada. 
Hoje eu acordei duas horas antes, sem a sensação de estar sedada, porque não conseguia dormir. Devo tomar umas três canecas de café ao longo do dia, duas aspirinas, 3 litros de água e comer alguma coisa no meio termo. Sei que vou ficar batendo os pés debaixo da mesa numa inquietação que me acompanha desde de sempre, como se eu tivesse procurando alguma coisa. Como preenche o tempo que sobra? Da mesma forma que a gente preenche a falta de um amor que sempre esteve ali: não preenche, a gente só tenta substituir as horas vagas com alguma atividade nada importante.
Saí de casa duas horas mais cedo e parei num café que não vale metade do dinheiro que cobra, mas paga o silêncio. Enquanto passo as folhas de um livro qualquer, paro para observar um senhor na mesa do canto. Pessoas sozinhas em cafés caros que pedem alguma coisa enquanto anotam ou leem estão sempre fugindo de algo ou carregando um fardo. Sempre.
Bom, eu tinha duas horas para pensar e repensar no que foi me foi dito. A violência sentimental de quem ama a gente é brutal quando sincera, e um tanto quanto cruel também.
Paguei o café e continuei observando o senhor sentado no canto lendo Caio. Entendo a dor. Não sei se foi a namorada, namorado, mãe ou melhor amigo. Não entendo o fardo alheio como entendo o meu. Vejo abelhas, ele contorce, abana, tenta manda-las embora. Ele tenta, joga o café fora, não tem mais nada doce morando ali. E elas continuam avançando, devorando, ameaçando ferroadas. Não entendo a dor alheia. E nem ele entende que não adianta balançar os braços, tentar expulsar ou pagar um café caro em um lugar silencioso para botar as coisas pra fora. As dores são como as abelhas, com um único e agravante elas já estão dentro dele e dão ferroadas o tempo todo. Eu entendo.

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