terça-feira, 2 de fevereiro de 2016


"Não é à toa que entendo os que buscam caminho.
Como busquei arduamente o meu!
E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser,
o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido.
O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura 
de um modo de andar, de um passo certo.
Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores,
o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei.
Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros.
Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei:
eis o meu porto de chegada”.

[Clarice Lispector in Crónicas no ‘Jornal do Brasil (1968)’]