segunda-feira, 30 de novembro de 2015

" Quando duas loucuras excepcionais se encontram, o que poderia tornar-se um caos irreversível resulta em equilíbrio, quando um, assenta o seu eixo, no ponto torto do outro."

Marinez Full

" Se você sobreviver sem mim, quem sabe poderemos nos encontrar em uma nova estrada. Eu não serei tão amigável, pois não a deixarei fugir levando o que não lhe pertence:
Meus eus infinitos, minha pele, meus vícios, minha necessidade de solidão. Claro que isso é apenas uma hipótese que estou considerando no caso de você conseguir sobreviver sem mim. "

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Eu juro que pensei que se despedir devagar podia doer um pouco menos. Pelo menos à primeira vista era o que me parecia… “Vamos ser amigos”, repetimos em consenso. Talvez por inexperiência ou por ingenuidade – o que eu creio que seja mais provável –, nos enchemos de esperança, achando que o amor poderia se eternizar: e que, mesmo sem romantismo, pudesse quem sabe se tornar uma convivência quase amigável.
Só que um dia desses, a gente se perdeu.
Eu lembro bem: ninguém estabeleceu uma data certa ou marcou no relógio hora exata pra ir embora de vez. Só fomos rareando aos poucos a conversa, e o “oi tudo bem” cada semana mais mecânico. As novidades que apareciam já não tinham razão de serem divididas: porque, sem convivência, que graça tem ficar compartilhando a vida?
Na verdade, acho que a gente foi é se acostumando à ausência. E quando viu, já não se precisava mais.
Eu sei; é duro, é esquisito. Há bem pouco tempo isso nunca seria possível, nem naqueles pesadelos que levam embora o sono às 3h25 da madrugada. Mas quando não há afinidade que una nem amizade verdadeira que prenda, a paixão vai dando as costas e carregando com ela qualquer motivo pra ainda estar perto.
Você e eu bem que tentamos.
Mas uma hora dessas, a gente se perdeu.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Você não existe.

Às vezes eu acho que me faz mal pensar em você, até porque você não existe. Provavelmente você é mais real na minha cabeça do que jamais será em algum corpo humano, que eu vou gostar tanto, mas ainda vou gostar menos do que aqui, na minha cabeça.

Às vezes tenho uma impressão de que você está aqui e é só descer as escadas para te encontrar. Eu sei que posso descer e que, se descer, você vai estar lá. Eu posso. Está nas minhas mãos. Mas não desço. Fico aqui, nesse sofá velho. Nem me pergunte. Não sei porque.

Às vezes eu quero levantar e ir atrás de algo que não tenho aqui nesse sofá. Fico arquitetando por horas. Compro pelo computador tudo o que preciso para sair daqui. Mas antes de qualquer coisa acontecer eu desisto. Escrever dá sono, pensar da sono, arquitetar da sono e já que estou no sofá, aproveito para dar um cochilo.

Tem uns dias em que eu acordo tão bem que esqueço que quero sair para te encontrar.

Tem uns dias em que eu acordo tão angustiado que não consigo nem pensar em como ir te encontrar.

Tudo parece desculpa.

Tudo é desculpa.

Desculpas sem erros e também sem atitudes.

Seria muito mais fácil se você viesse me encontrar.

Mas fácil não tem graça.

Fácil não existe.

E você também não.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

"Aplaudam, meus amigos, a comédia acabou,"


O fim de um romance é algo que transita entre a tragédia e a comédia. Barão de Itararé não me deixa mentir quando sugere aos desiludidos que procurem numa próxima padaria os seus sonhos perdidos. A frase de Ludwig Beethoven, que diz: "Aplaudam, meus amigos, a comédia acabou," bem poderia encaixar-se no contexto dos relacionamentos amorosos. Porém, Cazuza confirma essa teoria, consta na sua afirmativa de que o amor é o ridículo da vida. E se ao estarmos apaixonados até a raiz dos pelos menos visíveis, nos assumimos como bregas, é inevitável que ao término de um relacionamento nos tornemos ridículos. Pessoa dizia: todas as cartas de amor são ridículas, muito antes do pop rock ser um gênero musical, já sabíamos que são naturalmente ridículas. Pois, afinal, a graça que está presente no drama do término de um romance, reside na arte de saber rir da sua própria desgraça, sempre confiante de que os sonhos podem ser bem mais saborosos em outra padaria.
Só porque eu tenho certeza que esse fim de semana vai ser incrível!!! Emoticon heart

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Pessoas que não têm espírito livre e que encontram pessoas livres, são desafiadas a enfrentar a dificil ruptura com o medo, ou não conseguirão atingir a altura do voo do seu par. Esse é um dos motivos pelo qual vemos alguns casais, ligados por um longo fio tensionado, prestes a arrebentar. O que quer que os ligue, não é forte o bastante para fazer com que aquele que encontra-se preso ao chão, ouse voar
Coisas muito arrumadas logo desviam o olhar cansado a procura de algo mais instigante. Bom é tirar do lugar, virar do avesso, despentear. Uma certa bagunça funciona como um convite pra diversão e como prova inconteste de que há vida. É legal se arrumar pra ficar linda. Mas uma mulher loucamente feliz, ou está descabelada, ou está nua. A estética do saber viver é assimétrica, é puro desalinho. 
√ Um bom vinho quando bebido a dois
é o cúmplice ideal para o crime perfeito. √
" Não há segurança nenhuma no amor livre. Admito, porém, que não reconhecer-me pertencente ao outro é muito excitante. Eu não me lembro de ter sido feliz tendo a garantia de amar e ser amada. Acho que isso é para poucos. Gosto da sensação de ter um grito preso que guarda em si a ambiguidade de, às vezes ser medo e noutras desejo. "
Sou feita de loucura pensada, meço, peso, sou demasiadamente sensata. 
Quando não estou no eixo faço do amor uma guerra ou vice versa. 
Sou aço frio, ferro quente. 
Aposto que você pira na ideia de que sou loucura pura.
Meu estado permanente varia de alegria temperada à extrema ira. 
Pra todo o mal há uma cura. Sou psico-equilibrada. Aprendo com meus próprios erros. Há que se ter coragem. Algumas vezes sou mais ou menos psicopata. Até não ser mais nada além do que um tanque de pólvora esperando uma faísca, que pode inclusive, ser um beijo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

É verdade. É verdade que tens asas. 
Normalmente usas-as para me elevar ao céu. Nunca te disse, mas essas tuas asas, levam-te ao mais alto da vida, e de lá, avalias o mundo com esse teu ponto de vista tão próprio. 
É estranho amar-te assim, mesmo depois de tanta confusão junta. Mas essas tuas asas...

Peço-te por tudo, que sempre que voares me leves contigo, e que me mostres os mistérios do céu.
Estou super-orgulhosa de saberes voar sozinho.
Essa tua independência faz-me gostar mais ainda de ti.
Sempre que por algum motivo a vida te aleijar as asas, e te impedir o voo, eu vou estar aqui, e vou cuidar delas. Nem que para isso tenha de te enrolar em compressas, e obrigar-te a ficar na cama até recuperares totalmente.
Mas... na verdade... não te vim falar de asas.
Quero-te falar daquilo que me faz voar ainda um pouco mais alto: o meu amor por ti.
Esse é infinito, não tem principio nem fim. É eterno, porque em questões temporárias vais permanecer sempre em mim. Do meu todo, tu és mais de metade.
Pouco tempo, muito significado. Nós sabemos.
Entre sorrisos, vôos e âncoras.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Tenho corpo leve, não sou de atravancar caminho, ao menor obstáculo eu desvio, uso rota alternativa. Se assim mesmo algo me restringir, alço voo. Deixando tudo para trás, volto a ser quem eu sempre fui, um ser livre.

#msfull

quinta-feira, 18 de junho de 2015

- A tua sorte é que eu esqueço as coisas más que tu fazes.
- Coisas más? Que coisas más é que eu fiz?
- Não me lembro.
Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos
Não seria eu...

Clarice Falcão - Capitão Gancho

Viciados em companhia
Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Sozinho é com, solitário é sem.
Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho.
Nunca foi ao cinema sozinho, nunca viajou sozinho, perambula pela rua feito um cão que se perdeu do dono. Sentar na lanchonete de uma livraria para tomar um cafezinho assemelha-se a uma catástrofe. Sua solidão lhe parece vergonhosa e indigesta, é evitada com o mesmo afinco com que evitaria a morte.
Para ele, qualquer parceria é melhor que nenhuma. Uma conversa enfadonha é melhor que o silêncio. Um chato é melhor que ninguém. É praticamente um viciado em companhia. E, como todo viciado, critério não é o seu forte.
Não confio no amor de quem não se suporta.
De quem telefona a fim de papo furado, de quem envia mensagens só para ouvir o sinal da chegada da resposta, de quem precisa se iludir de que não está só. Quem de nós não está só?
Uma manhã de frente para o mar, uma tarde com um livro, uma noite com um filme, três dias inteiros numa cidade estranha, uma rua que nunca foi atravessada, um museu com tempo livre à vontade, uma cama vazia – para ele, simulacros do inferno.
Não confio no amor de quem não se entretém.
De quem se desespera em frente ao espelho, de quem não consegue se maravilhar num jardim, de quem não viaja ao ouvir uma música, de quem não gosta de andar de ônibus enquanto aprecia a paisagem pela janela, de quem não se sente inteiro num trem.
Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Sozinho é com, solitário é sem.
Eu sozinha sou muitas. Sozinha, tem mais sabor minha comida, tem mais foco o meu olhar, tem mais profundezas o meu ser. Sozinha tem mais espaço minha liberdade, tem mais imaginação a minha fantasia, tem mais beleza a minha individualidade. Sozinha tem mais força o meu pensamento, mais inteireza a minha vontade.
Não confio no amor de quem negocia sua autenticidade.
Como amar de verdade outro alguém, se não sabe de onde esse amor vem? Onde foi gerado, por que é necessário, que atributos ele contém? Amar é doar, não vem do doer. Amar é saber que aquele que a gente ama, se faltar, vai deixar saudade, mas não nos transformará num cadáver a vagar. Não confio em quem ama para ser um par, não confio em quem quer apenas se enquadrar, não confio em quem ama por não se tolerar.
Amar tem que ser extraordinário. Além do que já se tem.
Se sozinho você não se tem, amar vira tubo de oxigênio, ânsia, invenção e enredo barato, perde a dignidade, o amor vira muleta e trucagem. Confio no amor de quem não precisa amar por sobrevivência, de quem se basta e mesmo assim é impelido a se dar, porque dar-se é excelência, não é mendicância.
Não confio no amor de quem não se ama em primeira instância.
Martha Medeiros

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Eu entendo!

Se tem uma mania -e bem problemática– é o meu hábito de desligar o celular quando ele toca, abrir o olho uma hora depois, sair correndo porque já estou em cima da hora, procurar uma roupa que não precisa passar e torcer para que todos os sinais estejam verdes. 
Hoje eu não acordei atrasada. 
Hoje eu acordei duas horas antes, sem a sensação de estar sedada, porque não conseguia dormir. Devo tomar umas três canecas de café ao longo do dia, duas aspirinas, 3 litros de água e comer alguma coisa no meio termo. Sei que vou ficar batendo os pés debaixo da mesa numa inquietação que me acompanha desde de sempre, como se eu tivesse procurando alguma coisa. Como preenche o tempo que sobra? Da mesma forma que a gente preenche a falta de um amor que sempre esteve ali: não preenche, a gente só tenta substituir as horas vagas com alguma atividade nada importante.
Saí de casa duas horas mais cedo e parei num café que não vale metade do dinheiro que cobra, mas paga o silêncio. Enquanto passo as folhas de um livro qualquer, paro para observar um senhor na mesa do canto. Pessoas sozinhas em cafés caros que pedem alguma coisa enquanto anotam ou leem estão sempre fugindo de algo ou carregando um fardo. Sempre.
Bom, eu tinha duas horas para pensar e repensar no que foi me foi dito. A violência sentimental de quem ama a gente é brutal quando sincera, e um tanto quanto cruel também.
Paguei o café e continuei observando o senhor sentado no canto lendo Caio. Entendo a dor. Não sei se foi a namorada, namorado, mãe ou melhor amigo. Não entendo o fardo alheio como entendo o meu. Vejo abelhas, ele contorce, abana, tenta manda-las embora. Ele tenta, joga o café fora, não tem mais nada doce morando ali. E elas continuam avançando, devorando, ameaçando ferroadas. Não entendo a dor alheia. E nem ele entende que não adianta balançar os braços, tentar expulsar ou pagar um café caro em um lugar silencioso para botar as coisas pra fora. As dores são como as abelhas, com um único e agravante elas já estão dentro dele e dão ferroadas o tempo todo. Eu entendo.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A gente começa entender, depois que a gente cresce que,  a proteção amorosa, o suporte, a delicadeza, precisam começar na nossa relação com nós mesmos.





Eu me perguntei porque quando mais precisamos de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos. Que estranha escolha é essa, que faz a gente alimentar os abismos, quando mais precisa valorizar as próprias asas.

Se eu falar que hoje acordei triste, que não foi fácil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava bonito lá fora, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha preguiça, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “anima” e me recomendar um antidepressivo.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, ou talvez porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto à alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.
“Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio à música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ser você o coração que tanto precisa!

Se eu soubesse, durante toda a minha vida, o que sei hoje, teria sido um tantinho mais feliz no passado. E em todos os meus relacionamentos, claro. Embora a gente saiba que uma paixão desorienta e desatina até a mais sensata das mulheres, respirar fundo e colocar um tantinho de razão nas nossas ações e reações faz um bem danado. Ao nosso bem estar e ao bem do outro, diga-se de passagem.

Pode parecer egoísmo ou insensatez, mas chega uma hora que a gente percebe que a paz está no silêncio ou no barulho individual de cada um. Próprio. Singular. Na busca por dias melhores a que cada um se propõe. Meio clichê, mas verdadeiro: se eu quero, consigo. Se não quero, arranjo uma desculpa.

É preciso ser inteiro para ser parte de um casal ou de uma turma de amigos. É preciso saber estar bem sozinho para ser feliz acompanhada. É preciso saber o seu papel na vida para não ser coadjuvante na vida alheia. Ser cumplicidade na hora certa, para não sufocar os demais. Ser você o coração que tanto precisa para estar em paz!

sexta-feira, 17 de abril de 2015

20 e 30 anos

Aos 20 anos, qualquer estrada serve. Mesmo que seja esburacada, ou de terra, ou vá de nada a lugar nenhum. O que vale é a experiência e está tudo bem. Mesmo que o pneu fure, que a gasolina acabe ou que o destino final mude. Aos 30, já sabemos qual estrada é a melhor ou, pelo menos, consegue-se perceber quais são as erradas antes de embarcar em uma. O porta-malas está cheio de bagagem, calcula-se quantos km se roda com um litro de gasolina, há um mapa no porta-luvas e pneus novos. Importa, sim, e muito, o destino.
Aos 20 anos, existe uma grande dose de paciência com os próprios erros. Todos dizem "ainda dá tempo": de mudar de emprego, de trocar de faculdade, de viajar o mundo, de encontrar um amor ou um rumo. Aos 30, mudar de emprego passa a considerar variáveis mais numéricas, trocar de carreira e seguir um sonho soa como uma besteira infantil e, para viajar o mundo, espera-se a baixa do dólar.
Por outro lado, aos 20, o peso de pertencer a um grupo é maior, os padrões que a sociedade impõe atormentam e as normativas da família perturbam. Aos 30, se é mais livre. Nem que seja um pouco. Se a roupa aperta, não importa. Se a decisão não agrada a todos, não se lamenta. Se não queremos algo que todos querem, e daí? E vice-versa, tanto faz. A dona de mim sou eu, afinal de contas.
Aos 20, se a mensagem não chega, se o telefone não toca, se o relacionamento termina, a vida vai junto e parece o fim do mundo. Não se percebe as lacunas no discurso dos outros, nem as mentiras, ou as máscaras. Aos 30, desvenda-se mais rápido a premissa de cada um, a intenção por trás do sorriso e os furos na personalidade. Não há tempo - muito menos paciência - para conviver com quem é de mentira. E, se o relacionamento termina, enquanto se chora também se escreve uma lista do que fazer de diferente da próxima vez.
Aos 20, colecionam-se colegas que chamamos de amigos. Aos 30, tem-se uma meia dúzias de amigos e não nos sentimos sozinhos.
Se aos 20 reunimos todo o material que nos construirá, aos 30 estabelecemos residência e sabemos quem somos. Pelo menos numa parte maior do tempo. E isso é bom.
Não, não quero casar. Não, não quero ter filhos. E não, não preciso me explicar. Já sou crescida. Tenho 30.

terça-feira, 17 de março de 2015

Antiautoajuda: Neste mundo, sentir-se mal é sinônimo de excelente saúde.

Quando as pessoas dizem que se sentem mal, que é cada vez mais difícil levantar da cama pela manhã, que passam o dia com raiva ou com vontade de chorar, que sofrem com ansiedade e que à noite têm dificuldade para dormir, não me parece que essas pessoas estão doentes ou expressam qualquer tipo de anomalia. Ao contrário. Neste mundo, sentir-se mal pode ser um sinal claro de excelente saúde mental. Quem está feliz e saltitante como um carneiro de desenho animado é que talvez tenha sérios problemas. É com estes que deveria soar uma sirene e por estes que os psiquiatras maníacos por medicação deveriam se mobilizar, disparando não pílulas, mas joelhaços, do tipo “acorda e se liga”. É preciso se desconectar totalmente da realidade para não ser afetado por esse mundo que ajudamos a criar e que nos violenta. Não acho que os felizes e saltitantes sejam mais reais do que o Papai Noel e todas as suas renas, mas, se existissem, seriam estes os alienados mentais do nosso tempo.
Olho ao redor e não todos, mas quase, usam algum tipo de medicamento psíquico. Para dormir, para acordar, para ficar menos ansioso, para chorar menos, para conseguir trabalhar, para ser “produtivo”. “Para dar conta” é uma expressão usual. Mas será que temos de dar conta do que não é possível dar conta? Será que somos obrigados a nos submeter a uma vida que vaza e a uma lógica que nos coisifica porque nos deixamos coisificar? Será que não dar conta é justamente o que precisa ser escutado, é nossa porção ainda viva gritando que algo está muito errado no nosso cotidiano de zumbi? E que é preciso romper e não se adequar a um tempo cada vez mais acelerado e a uma vida não humana, pela qual nos arrastamos com nossos olhos mortos, consumindo pílulas de regulação do humor e engolindo diagnósticos de patologias cada vez mais mirabolantes? E consumindo e engolindo produtos e imagens, produtos e imagens, produtos e imagens?
A resposta não está dada. Se estivesse, não seria uma resposta, mas um dogma. Mas, se a resposta é uma construção de cada um, talvez nesse momento seja também uma construção coletiva, na medida em que parece ser um fenômeno de massa. Ou, para os que medem tudo pela inscrição na saúde, uma das marcas da nossa época, estaríamos diante de uma pandemia de mal-estar. Quero aqui defender o mal-estar. Não como se ele fosse um vírus, um alienígena, um algo que não deveria estar ali, e portanto tornar-se-ia imperativo silenciá-lo. Defendo o mal-estar – o seu, o meu, o nosso – como aquilo que desde as cavernas nos mantém vivos e fez do homo sapiens uma espécie altamente adaptada – ainda que destrutiva e, nos últimos séculos, também autodestrutiva. É o mal-estar que nos diz que algo está errado e é preciso se mover. Não como um gesto fácil, um preceito de autoajuda, mas como uma troca de posição, o que custa, demora e exige os nossos melhores esforços. Exige que, pela manhã, a gente não apenas acorde, mas desperte.

NÃO, TU NÃO TE TORNAS RESPONSÁVEL POR EXPECTATIVA ALHEIA NENHUMA!


Manda longe aqueles que te “amam” sob a condição de que faças exatamente o que de ti esperam. Porque se ousares fazer diferente, se te atreveres a seguir tua própria vontade, sem nada conceder ao capricho alheio, rapidamente te odiarão com a mesma fúria com que hoje te adoram.
Desiste. Desiste de agradar a Deus e todo mundo. Afaga antes a ti mesmo e, se Deus quiser, o mundo todo será teu. Então poderás escolher o que queiras dele e a ele devolver o que puderes.
Cuidado com quem te cobra coerência, perfeição e generosidade. Atenção a quem te julga egoísta por valorizares a vida que te foi dada. Geralmente, é alguém despejando em ti os defeitos que não suporta saber em si mesmo.
Corre. Corre o mais rápido que puderes das malditas expectativas, as suas e as alheias. Expectativas são bichos não domesticáveis. Melhor é criar filhos, cachorros, gatos e lembranças.
E sobretudo perdoa. Aprende a perdoar quem te ataca em tua mais óbvia fraqueza: tu és nada além de um ser humano cheio de falhas que ora carece de companhia, ora anseia por solidão. Mas não te esquece: perdoa, sai de perto e segue em frente. Porque o perdão é a tua liberdade com outro nome.
Reconhece então tua fraqueza e cai no sono sem culpa. Quando acordares, serás ainda a mesma criatura imperfeita de sempre, mas terás mais força que nunca para seguir correndo. Em frente, atrás, de lado, não importa. Só o que ainda vale de tudo isso é o puro e simples movimento. Dispensa o peso.
Manda embora. Liberta-te. Levanta e voa!